Quando a atriz Cássia
Kiss apareceu na TV com os seios à mostra há 27 anos, ensinando as mulheres
brasileiras a fazerem o autoexame para prevenir o câncer de mama, muita gente
achou a campanha escandalosa e apelativa. O fato é que até hoje essa campanha é
celebrada pela redução efetiva do número de casos da doença.
Pois é, na área da
saúde pública sabe-se que a prevenção de qualquer doença se faz com informação
clara e objetiva.
O que a maioria
dos brasileiros ignora – e parte dos profissionais de saúde também – é que isso
também vale para suicídio. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 90%
dos casos os suicídios são preveníveis por estarem associados a patologias de
ordem mental diagnosticáveis e tratáveis, principalmente a depressão. Ou seja,
de cada dez casos de autoextermínio, nove podem ser evitados onde houver o
diagnóstico preciso dessas patologias, o devido tratamento e a assistência das
redes de cuidado e atenção.
É preciso abrir
espaço para campanhas de prevenção e reverter as estatísticas num mundo onde
aproximadamente 800 mil pessoas se matam a cada ano, 2.200 a cada dia, e um
novo caso é registrado a cada 40 segundos. No Brasil, são aproximadamente 12
mil casos por ano, o que dá uma média de 32 suicídios por dia.
Ainda assim, por
incrível que pareça, este continua sendo um assunto invisível, fora do radar da
sociedade. E não é difícil identificar alguém na família, no círculo de
amizades ou na vizinhança que já tentou se matar ou consumou o ato suicida.
Pode-se dizer que boa parte dessas pessoas que desapareceram em circunstâncias
tão violentas ainda estaria entre nós se os mais próximos soubessem como agir
quando determinadas pistas ou sinais dão conta de que algo não vai bem.
Além dos sintomas
característicos das psicopatologias associadas ao suicídio (depressão,
transtornos relacionados ao uso de substâncias, esquizofrenia, transtornos de
personalidade, etc) é importante acompanhar eventuais mudanças de comportamento
que indiquem a tendência ao isolamento social, desinteresse generalizado, angústia
e aflição, baixo rendimento escolar ou produtividade. São alguns indícios de
que algo pode estar errado.
Para enfrentar o
tabu em torno do assunto – e a brutal desinformação que agrava as estatísticas
– celebra-se neste dia 10 de setembro o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.
Para dar ainda mais visibilidade a esse grito de alerta em favor da vida, a
Associação Internacional pela Prevenção do Suicídio (IASP) lançou o movimento
Setembro Amarelo, que tenta associar esta cor à causa da prevenção do autoextermínio.
A ideia é pintar, iluminar e estampar o amarelo nas mais diversas resoluções
por aí.
É possível que a
campanha não tenha o mesmo efeito que o autoexame da Cássia Kiss. Mas é um
começo. Aliás, Cássia Kiss escreveu certa vez uma mensagem de gratidão ao CVV –
Centro de Valorização da Vida – que realiza desde 1962 um trabalho voluntário
de apoio emocional e prevenção do suicídio por telefone (141) e mais
recentemente pela internet ( http://www.cvv.org.br/site/chat.html ) sem
vinculação política ou religiosa. Munida da mesma coragem com que exibiu os
seios na TV em favor da vida, ela deu o seguinte depoimento sobre a
instituição: “Certa vez, há muitos anos, precisei de ajuda especial. Tinha
vontade de desaparecer (coisa normal no mundo de quem não tem compromisso,
responsabilidade comunitária). Chamei o CVV. Estou viva e
integrada”. (G1)
Imagem: Divulgação CVV
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