sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Espírito público

         
Feira de Santana teve no passado cidadãos dotados de verdadeiro espírito público. Homens que não mediram sacrifícios para agir quando em prol do bem comum. Cito exemplos como o Coronel Bernardino Bahia, intendente que construiu uma praça pública com seus próprios recursos. João Marinho Falcão, empresário que, quando convocado, entrou na política para socorrer, com sua competência administrativa, o município combalido por más administrações. João Durval Carneiro, prefeito visionário, secretário de Governo e deputado atuante, governador zeloso para com sua terra, homem que deu o impulso necessário para que Feira de Santana seja o que é hoje. Muitos outros nomes poderiam ser citados, de cidadão que, por um determinado momento, até se afastaram das suas profissões, dos seus afazeres, esqueceram diferenças partidárias, para agir em prol da coletividade, atendendo aos clamores da população. Alguns seguiram carreira na política, outros não.
         Porém, há muitos anos os interesses pessoais têm falado mais alto, e o altruísmo do cidadão está em baixa. E não é para menos, pois nos dias atuais, quem dá de si sem receber nada em troca, é chamado de otário, idiota. Não faz muito tempo, Jodilton Souza, empresário bem sucedido da área de Educação, quis por um momento dirigir o Fluminense de Feira, seu time de coração. Foi vaiado e xingado, chamado até de ladrão, por torcedores insuflados por seus desafetos, uma gente despeitada e incapaz, que nada faz pelas coisas do município. Perdeu o Fluminense, que viu Jodilton adquirir o Bahia de Feira, fazer o clube ascender à 1ª Divisão e dois anos depois ser Campeão baiano. E para completar, o clube está com seu estádio quase pronto. “Sorry, periferia”, diria Ibrahim Sued.
         Agora, Feira de Santana corre o risco de perder o campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que atualmente funciona no bairro SIM, nas instalações do antigo Serviço de Integração do Migrante. O gabinete do reitor da UFRB publicou uma portaria constituindo uma comissão composta por docentes e técnicos, que vão elaborar o edital público para doação de terreno à UFRB. O edital levantará critérios para pontuação desses terrenos, para que possam ser selecionados. Há a possibilidade de pessoas de outros municípios enviarem propostas de doação.
         A universidade não possui recursos para compra de um terreno, mas sim para construção do campus. O Campus provisório no SIM atenderá à demanda de alunos somente até 2016, uma vez que em 2017 serão implantados novos cursos. Preocupados com a situação da UFRB em Feira, representantes da universidade e do Instituto Pensar Feira se reuniram para discutir a questão. No encontro, foram sugeridas como possibilidades de avaliação as áreas das fazendas do ex-banqueiro Ângelo Calmon de Sá e do ex-governador João Durval Carneiro.
         O professor Evandro Oliveira, que também faz parte do Pensar Feira, colocou o dedo na ferida, ao afirmar que “está existindo uma briga política entre os governos municipal e estadual quanto à implantação da UFRB em Feira. E é uma pena pois Feira pode estar perdendo o campus da universidade porque há uma briga política entre os governos municipal e estadual, um porque no convênio teria que dar o terreno e o outro teria que dar a estrutura. E eu faço parte de um grupo que conseguiu três terrenos de feirenses, mas o estado finca o pé por questão de falta de estrutura.
         Eis então que aparece o deputado federal Fernando Torres, falando em nome do seu irmão, empresário Osmar Torres Filho, informando que poderia doar 50 tarefas, vizinho à fazenda de João Durval. “A UFRB não pode sair de Feira de Santana e a gente vai trabalhar em função disso”, disse ele. Essa atitude dos homens do Pensar Feira e dos Torres, deixa no ar um novo alento de que nem tudo está perdido. Ainda existem pessoas altruístas, dotadas de espírito público e demonstrando amor pelas coisas de Feira, até mesmo entre aqueles que não nasceram no município.
         Embora seja negada, a briga política existe sim, por conta da proximidade das eleições municipais do próximo ano. A cidade tem perdido muito com isso. Obras e ações que há muito já deveriam ter acontecido, estão sendo constantemente barradas através de ações judiciais e toda sorte de artifícios para prejudicar o governo municipal (vide BRT e licitação de transportes públicos).
         Porém, é necessário que se lembrem que Feira de Santana tem um histórico oposicionista. Resistiu sempre à ditadura militar e ao governador ACM, que queriam a todo custo tomar o poder na cidade. E nem por isso a cidade deixou de crescer. O povo feirense conhece de cor o discurso de que “para crescer, é preciso ter um prefeito alinhado com o governador”. Pode até funcionar em outros municípios, mas não em Feira. Ela é uma cidade cosmopolita, e parafraseando Galileu Galilei, eu digo que esta cidade “pur si muove”.


Cristóvam Aguiar

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