terça-feira, 31 de março de 2020

Chinavírus, arrogância, e integração

Impressiona como somos impostos a pensar de forma dicotômica. Ou sé bolsominion ou petralha, economia ou isolamento, como se em eventos dinâmicos as coisas não tivessem que ser pensadas em conjunto. Testagem massiva, isolamento social, quarentena, e até bloqueio total, são instrumentos diversos a serem usados de acordo com o momento, perfil de evolução, disseminação da infecção, dimensão do sistema de saúde. É assim que deve ser.
Os que defendem a economia alegando pensar nos pobres frequentemente- embora não todos-, estão defendendo sua renda, sua gordura, mais do que os pobres, que dependerão do sistema SUS onde a relação de leitos na UTI é 1:1 e não do sistema privado onde é 3,5:1.
Também o fazem sem sequer citar as medidas do governo ( até porque exige um conhecimento de economia que o empirismo com que opinam não inclui). E dizem que os grupos de risco devem ser isolados, sabe-se lá como, porque quanto mais gente nas ruas, portanto, mais cidadãos contaminados de vez, mais pessoas do grupo de risco serão contaminadas, a não ser que mostrem esse isolamento Suíço milagroso, como ocorre.
Por outro lado, os defensores do isolamento total, esquecem a infraestrutura a ser mantida, a necessidade de exigir velocidade no amparo aos necessitados, a possibilidade de liberar os já curados, a chance de fazer bloqueios limitados a regiões específicas, a importância de manter o máximo possível da economia funcionando.
A outra coisa esquecida pelos dois é que ambos acham que o "bloqueio total", ou "imunização coletiva", são os remédios únicos. Um cura, o outro, mata. E vice-versa. Uns preferem reduzir as mortes presentes, o outro alega reduzir as mortes futuras. Um critica o caos viral, mas argumenta contra usando o caos econômico, com o mesmo terror, mostrando que são apenas faces diferentes da mesma moeda.
Outro equívoco é achar que ambos são cura da doença. Não há essa pretensão. O isolamento é apenas um modo de ganhar tempo, reduzir probabilidades, buscar um remédio, alongar o tempo para que o sistema de saúde se prepare para o atendimento, com garantia de vagas o suficiente para que não haja mortes que seriam evitáveis, mas sabendo que que não pode ser eterno.
Já a " imunização coletiva" pela doença aposta que assim a pandemia acaba mais rápido ( é verdade), mas esquece que por ser mais rápido será mais colapsante e letal e matará quem escaparia, por falta de assistência.
Enquanto os grandes estudiosos debatem o imenso universo de incertezas que rondam a pandemia impressiona a arrogância dos que sabem as soluções, como se o tempo todo não tivéssemos que tentar buscar o equilíbrio e aplicação de todos esses componentes citados.
Já os que emergem do pântano para dizer que um número x ou y de mortos não é nada, apenas, desejo que voltem ao seu lugar de origem.
E vamos tentar usar o conhecimento e os dados que temos para agirmos nos momentos diversos com sabedoria.

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