O alerta da pandemia de coronavírus
causou uma escassez de álcool em gel. Em muitos países, as prateleiras
das farmácias e de redes de supermercados onde antes estavam esses
produtos ficaram vazias. E, quando são encontrados na internet, muitas
vezes estão com preço mais alto que o normal.
Esse cenário levou à circulação na internet de um grande número de "receitas" caseiras desses produtos.
A
ideia pode dar uma sensação de tranquilidade: se você não encontrar
desinfetante para as mãos na loja, pode fazer o seu em casa.
Receitas não comprovadas
"O
principal perigo é que não fazemos corretamente ou seguimos uma receita
com eficácia duvidosa", disse à BBC News Mundo, o serviço em espanhol
da BBC, o dermatologista Antonio Clemente Ruíz de Almirón, porta-voz da
Academia Espanhola de Dermatologia e Venereologia.
"Estamos
confiando na internet e, com o alerta social que está ocorrendo, existe
muito engano, receitas caseiras que não têm eficácia comprovada. A
disseminação de tudo isso pode levar as pessoas a confiar em algo que
realmente não tem eficácia comprovada contra o vírus ou que pode até ser
prejudicial à pele", diz o especialista.
Devido à escassez de
álcool em gel e produtos necessários para produzi-lo, o que está
surgindo agora são produtos com menor concentração de álcool ou fórmulas
que não são eficazes.
"Comecei a ver receitas e fórmulas, por
exemplo, de óleos, combinações de ervas com misturas estranhas, cuja
eficácia é muito mais que duvidosa", diz o médico.
Organizações sanitárias como os Centros de Controle
de Doenças (CDC) dos Estados Unidos enfatizam que, para ser
desinfetante, o gel deve conter uma concentração de pelo menos 60% de
álcool.
Ruíz de Almirón ressalta que, se queremos usar álcool em
gel, devemos procurar aqueles que já foram aprovados pelas agências
reguladoras.
Também circula na internet uma receita que a
Organização Mundial da Saúde publica em seu site "para a elaboração de
formulações recomendadas para desinfecção das mãos".
No entanto,
essas são formulações especificamente direcionadas a profissionais de
saúde em locais onde há acesso a produtos desinfetantes para as mãos.
Para Ruíz de Almirón, a melhor maneira de se proteger contra o
coronavírus é lavar as mãos com água e sabão com frequência, por pelo
menos 20 segundos.
O uso de álcool em gel, diz ele, só deve ser uma opção quando sabão e água não estiverem disponíveis.
"Uma
das características do coronavírus é que é um vírus que possui uma
camada lipídica e, portanto, é relativamente sensível aos desinfetantes
comuns", diz ele. "Então, basta lavar as mãos com água e sabão."
Recomendações do CDC sobre como lavar bem as mãos:
Os Centros de Controle de Doenças dos Estados Unidos recomendam cinco passos para uma boa lavagem das mãos:
1 - Molhe as mãos com água corrente limpa (quente ou fria), feche a torneira e ensaboe as mãos;
2 - Esfregue as mãos com sabão até espumar. Esfregue a espuma nas costas das mãos, entre os dedos e debaixo das unhas;
3 - Esfregue as mãos por pelo menos 20 segundos;
4 - Enxague bem as mãos com água corrente limpa;
5 - Seque-as com uma toalha limpa.
Além disso, o uso dessas receitas com "combinações duvidosas" também pode representar um risco para a saúde.
"Algo
que os dermatologistas têm falado muito é que, em geral, o principal
problema com álcool em gel ou com a lavagem contínua das mãos é que
favorece a pele a secar, rachar e as pessoas com pele um pouco mais
sensível podem ficar mais propensa a dermatites irritativas", diz Ruíz
de Almirón.
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, a
dermatite de contato é "uma reação inflamatória na pele decorrente da
exposição a um agente capaz de causar irritação ou alergia".
Um
dos tipos de dermatite é a irritativa, que é "causada por substâncias
ácidas ou alcalinas, como sabonetes, detergentes, solventes ou outras
substâncias químicas". Nesses casos, as lesões da pele geralmente são
restritas ao local do contato.
"É por isso que também
recomendamos, além da lavagem, que as pessoas usem bastante creme
hidratante para que a pele não fique muito seca", disse Ruíz de Almirón.
"Portanto, o conselho, especialmente em lugares onde temos
acesso a água e sabão, antes de usar álcool em gel, é que é preciso
lavar as mãos adequadamente com água e sabão." (BBC News Brasil)
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