sábado, 28 de março de 2020

Chinavírus, economia e as figuras do pântano


O humano é uma besta fera. O que nos contém é a fé, a lei, o longo caminho da civilização. O mal, no entanto, está sempre a espreita, com sua banalidade, como nos mostrou a filósofa Hannah Arendt. O humano encontra justificativas para qualquer de suas atitudes. Ao longo da história, temos vistos quantas barbáries são cometidas em nome da ideologia, do poder, causas, ou ambições pessoais.
É por isso que é tão arriscado violar os princípios. São eles que nos contém. E é por isso que a segunda vez de um ato que fere os princípios é sempre mais fácil do que a primeira. É assim com não matar, não roubar, não usar drogas, não ser desonesto com ninguém. A queda está sempre à espreita.

Confesso que me causa um frio na espinha quando ouço gente admitindo mortes para salvar a economia. Defender a preservação econômica é algo legítimo, torná-la um valor absoluto, em detrimento da vida, não, mas talvez eu esteja sendo humano, demasiadamente humano.
Rubem Novaes presidente do Banco do Brasil, disse que “a vida não é um valor infinito”. Durski, o dono da hamburgueria Madero, disse que 7- 8 mil vidas não é nada; Roberto Justus, publicitário, afirmou que “15 mil mortos é um número muito pequeno”. A figura mais profunda, no entanto, que emergiu do pântano foi um tal de Ricardo Amorim, economista, que disse: “que impacto tem a morte de 500 mil pessoas no Brasil? Quanto significa isso? Em 210 milhões? É ponto vinte e cinco. Que impacto tem isso para o país? Para a preservação da ordem social, democrática, para a vida de todas as outras pessoas, para a preservação do emprego? É nada. É triste, e tal, mas tudo bem. É uma fatalidade biológica. Agora, fechar o país quatro meses?”
Stalin não se sentiria envergonhado do discípulo Amorim, afinal, ele disse que “uma morte era uma tragédia. Um milhão de mortos, uma estatística”. Quem vence esse degrau moral, não tem limite. O princípio está rompido. O horror restante é uma mera questão de escala.

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