Estudo publicado há um ano discute o
possível surgimento de novo coronavírus com alcance mundial – e aponta
mercados de animais vivos como fator de risco
“Aparentemente, o risco de um CoV
(coronavírus) passar para humanos, levando a uma epidemia na China, é
baixo, pelas seguintes razões: (1) a distribuição geográfica dos
CoVs-MERS e CoV-HKU4 que têm o potencial de infectar humanos (são
capazes de acessar receptores celulares humanos) é limitada, e (2) os
CoVs-HKU5, que existem em morcegos por toda a China, não têm a
capacidade de usar os receptores de entrada humanos. Contudo,
não devemos subestimar a possibilidade de recombinação entre diferentes
CoVs de morcego, levando à geração de vírus com potencial pandêmico.”
Esse é um dos trechos do estudo Bat Coronaviruses in China,
escrito por três cientistas do Instituto de Virologia de Wuhan (mais um
quarto pesquisador, da Academia Chinesa de Ciências) e publicado em 2
de março de 2019, pouco mais de um ano atrás, no periódico Viruses.
Depois de explicar por que os morcegos
são bons transmissores de coronavírus (eles são os únicos mamíferos
capazes de voar longas distâncias), os cientistas fazem mais uma
previsão: “Acredita-se que CoVs carregados por morcegos irão reemergir
para causar a próxima epidemia de doença. Nesse aspecto, a China é um foco provável.”
Por que a China? Diz o artigo: “A
maioria dos morcegos que hospedam CoVs vive perto de humanos, podendo
transmitir vírus a eles e a animais de corte. A cultura
chinesa acredita que animais recém-sacrificados são mais nutritivos, e
essa crença pode impulsionar a transmissão viral.” Os cientistas afirmam, de modo claro, que um novo coronavírus poderia emergir de mercados que vendem animais ainda vivos.
Foi exatamente o que aconteceu com o SARS-CoV-2, que está provocando a pandemia de 2020 – e foi identificado pela primeira vez no mercado Huanan, em Wuhan,
onde animais de 75 espécies eram comercializados. O SARS-CoV-2 é
geneticamente similar aos coronavírus que infectam morcegos, e por isso
acredita-se que ele tenha vindo desse animal (não há certeza a respeito;
outra hipótese afirma que outro bicho, o pangolin, poderia estar envolvido. Animais de ambas as espécies eram vendidos no mercado Huanan).
O estudo, que foi custeado pelo
governo chinês, termina fazendo referência aos surtos de SARS (Síndrome
Respiratória Aguda Grave) e SADS (Síndrome da Diarreia Aguda Suína),
ocorridos em 2003 e 2017. “Dois CoVs originados de morcegos causaram
grandes epidemias na China ao longo de 14 anos, ressaltando o risco de
um futuro surto de CoV de morcegos neste país.” Não é o primeiro alerta
do tipo. Em 2007, um estudo publicado por quatro cientistas chineses
destacou o risco associado aos wet markets (mercados de animais vivos), que “podem servir como fontes e amplificadores de novas infecções”.
Em 27 de janeiro de 2020, quando o SARS-CoV-2 já ganhava força, o governo chinês anunciou a proibição da venda de animais silvestres por tempo indeterminado. Era tarde demais. (Super Interessante)
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