quarta-feira, 16 de março de 2022

Armadores e Armações

         

Armador, pra quem não sabe, na gíria da malandragem, existem dois tipos. Um é nocivo, vive de aplicar golpes contra pessoas incautas, geralmente para levar vantagem ou roubar alguma coisa de valor. O outro, é apenas irritante, pois gosta de pregar peças nas pessoas para rir às custas delas. Feira de Santana teve, tem e terá sempre armadores dos dois tipos. Do tipo nocivo os antigos falam sobre um sujeito conhecido pela alcunha de João Cimento Armado, que teria realizado a proeza de vender o prédio da Prefeitura Municipal cinco vezes, para “otários” diversos. Do tipo “inofensivo”, se podemos chamar assim, há uma grande variedade, que vai de jovens brincalhões irresponsáveis, até sérios e pacatos pais de família que não resistem a chance de pregar uma peça em alguém.

         É famoso o caso de jovens que tentaram assustar um amigo que sempre passava em frente ao cemitério, e o feitiço virou contra os feiticeiros (eu já contei essa estória aqui). Um grupo de estudantes do Colégio Santanópolis certa vez levou pra sala de Aula uma “bomba” dessa que se solta nas festas juninas, só que com um metro de comprimento. Na verdade, só havia meio quilo de pólvora preta no miolo da bomba. Mas embrulharam tanto com papelões e papéis que ficou com um metro, e mais o estopim. Ninguém acreditava que havia pólvora naquele “embrulho”, de tal forma que um sobrinho do diretor do colégio, diante do medo que havia em acender o estopim, num ato de bravura pegou uma caixa de fósforos dizendo: “vocês são frouxos, e aí dentro não tem nada. Querem ver”?  Disse e tacou fogo no pavio. Correu todo mundo e logo se ouviu uma explosão abafada, que produziu mais fumaça do que estragos. Apenas uma ou duas carteiras danificadas. Nada sério. Mas que valeu suspensão para a turma toda.

         Um cidadão conhecido como “Vevé” gostava de aprontar umas brincadeiras, às vezes até pesadas”, com os seus amigos. Mas como ele era, e ainda é, um “boa praça”, os amigos perdoavam e logo ele estava aprontando novamente. Mas quase se deu muito mal. Havia um “baba” entre amigos, aos sábados à tarde, num campo ao lado do antigo Cedin, no Tomba. Vevé participava, mas às vezes chegava atrasado e enchia o saco até que se arranjasse um lugar pra ele. Certo dia ele chegou atrasado, desceu do carro com um revólver na cintura e da beira do campo começou a cobrar: Vai ter lugar pra mim ou não? Só que ninguém estava disposto a dar lugar. A bola caiu perto dele, ele parou com o pé apontando o revólver pra bola, questionou: “Vai ter lugar pra mim ou não”? diante da negativa, ele efetuou alguns disparos e furou a bola. Foi um mal estar geral. Protestos. Xingamentos. Até que ele, rindo, abriu o porta malas do carro, de onde tirou uma bola novinha e disse. Vocês são umas bestas. Olha aqui, eu trouxe uma bola nova. Joguem com essa.

         Isso teria encerrado o incidente se um ex-jogador de futebol, que participava do “baba”, não tivesse apanhado um punhal na mala do carro tentando apunhalar Vevé. Salvou do golpe o já falecido professor Estrela, que havia percebido a ação do jogador, e o seguiu, segurando-o a tempo de desviar o golpe que poderia ter sido fatal. Acalmados os ânimos, Vevé ainda pálido e sem entender bem o que havia acontecido, ouviu do professor Estrela a seguinte observação: “Isso é pra você aprender que não se toma o brinquedo de 22 homens impunemente”.

         Quem olhasse para Jonas não diria que aquele senhor, já com alguns cabelos brancos, vasto bigode e ar professoral, seria um tremendo “armador”. O seu amigo, Teófilo, um fazendeiro, ouviu na “Voz do Brasil”, que naquele ano as abóboras obteriam um alto preço no mercado interno. E assim, homem de visão que era, tocou a plantar abóboras em sua fazenda, e obteve uma ótima safra. Após a colheita, já não havia mais onde estocar abóboras. Contudo, outros fazendeiros que também ouviam a voz do Brasil, plantaram abóboras e assim, a oferta sendo maior que a procura, fez os preços despencarem. Preocupado, pois havia até tomado dinheiro em banco, para plantar abóboras, Teófilo já previa um desastre financeiro, quando recebeu um telefonema de um possível comprador. Na verdade, era seu amigo Jonas, que sabia do seu dilema e resolvera lhe pregar uma peça. Seguiu-se o diálogo:

- O senhor tem abóboras para vender?

- Tenho.

- Eu compro, mas só pago a X $$$.

- Aceito. (ora se aceitava)

- O senhor entrega aqui em Goiás?

- Entrego. (Ora se entregava, O cara na aflição topa qualquer negócio).

- Só mais um detalhe.

- Qual é?

- O senhor tem que entregar cozidas. Porque eu só como abóboras cozidas...

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