sábado, 5 de março de 2022

 

*Concórdia fraterna*

 Quando abro uma caixa de charutos, muito antes de apalpá-los, aspirá-los ou fumá-los, transito por breve e indescritível momento de contemplação e êxtase. Afloram sentimentos, desapercebidos por amadores na fraternidade, propiciando-me entender o salmista quando afirma “é belo e prazenteiro o convívio de muitos irmãos juntos”.

Aquela coleção-irmandade, tem tudo quanto quaisquer outras têm. Sejam de identidade cultural, de cunho social, de princípios filosóficos, sejam quais forem. Irmãos congregados num dado tempo, em certo templo, munidos de um só propósito, amparados em pontos de vista comuns, prontos, supostamente, a prestar serviços à coletividade.


Meus charutos em suas caixas-templos, paramentados com seus anéis-insígnias e suas capas, muitas vezes confundem-me, por luzirem, de modo absoluto, iguais uns aos outros o que na prática, e o confirmo há anos, não acontece.  Mesmo estejam irmanadas as almas, os comportamentos diferem. E quanto! E como!

Vezes há, quando dois charutos, nascidos de mesmas mãos, na mesma data, sabem de maneira distinta ao fumá-los. Um doce e prazeroso; outro, amargo e difícil.Sempre, ao me deparar com tal situação, relembro a semelhança entre as gentes e os charutos.

Abrigados em templos comuns, muitos de nós manifestamos, verbalmente, laços irmanados, todavia não preservamos tal fraternidade quando acontecimentos nos obriguem provar a força de nossos propósitos.

Infelizmente, não há maneira prática, a não ser conviver - sendo pessoas – ou fumar - sendo charutos - de poder separar-se uns dos outros.

Hugo A. de Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.

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