terça-feira, 22 de maio de 2012

NA PRAÇA DA MATRIZ


            A cena tem lugar na Praça da Matriz. A praça está marcada pela diversidade: vendedor de pipoca, criança brincando e homens jogando dama, sentados nos bancos. No meio da praça dois fanáticos pregadores de seitas ameaçavam os presentes com a ira divina. Depois de uma vida indigna, eles dizem ter encontrado Jesus. O fim está próximo, gritavam, Jesus virá em breve e com fogo e enxofre aniquilará os maus, mandando-os para o inferno.

            Na praça estava algumas mulheres da chamada vida fácil. Alguém provocou uma delas: o que acha dos missionários, você não tem medo do castigo de Deus? Ela, com simplicidade garantiu: esse deus dos pregadores não é o meu Deus. O meu Deus é cheio de misericórdia, ama perdoa os infelizes. Explicou ainda: não estou nesta vida porque quero, mas é a única chance que me restou para dar escola e alimentar minha filha, que eu não quero que seja como eu.
            Ela disse mais: nas minhas tristes madrugadas, antes de deitar, ajoelho ao pé da cama, como minha mãe me ensinou, e peço proteção a Maria, minha senhora e minha mãe. Peço que me ajude a sair desta vida, peço, sobretudo, que ela esteja ao meu lado na hora da morte.
            Jesus jamais rejeitou os pecadores, embora tenha tido palavras duras com os auto-suficientes doutores da lei. Jamais teve uma palavra dura contra qualquer mulher. Foi contra os fariseus, mestres e doutores da lei que Jesus proclamou: elas –as prostitutas – e os publicanos vos precederão no Reino de Deus. (Mt 21,31).
            Faz PARTE do bom senso e está no Evangelho a afirmação: quem muito recebeu, muito terá de prestar contas. As circunstâncias têm papel destacado na vida de todas as pessoas. Os pais, os mestres, os comandos iniciais da infância marcam profundamente uma existência. Muitas vezes, o espaço da liberdade é drasticamente reduzido. É por isso que Jesus aconselha: não julgueis e não sereis julgados (Mt 7,1). Para Ele, não existe nenhum caso perdido. As portas da misericórdia estarão sempre abertas.
            Mesmo assim é inteligente dar-nos conta que a duração de nossa vida é limitada. O tempo é um presente que Deus nos dá para nosso amadurecimento. E o tempo de Deus é hoje. E um dia, nossa vida será examinada, não pela ótica fria da lei, mas pela ótica do  perdão e da caridade.

+ Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano

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