sexta-feira, 4 de maio de 2012

O Sertão continua ao Deus dará


“Sem chuva na terra, descamba janeiro, depois fevereiro e o mesmo verão”.

A seca no Nordeste parece ser um problema já existente antes mesmo do descobrimento do Brasil. Não foi por acaso que os imigrantes europeus se aventuraram pelo sertão afora a procura de terras férteis para plantar. Os estados localizados nas demais regiões são abundantes em mananciais de água e em chuvas regulares. Aqui no Nordeste o que prevalece é o semiarido é a desertificação. Em 1950 Luiz Gonzaga alertava através da música Vozes da Seca sobre a necessidade do governo realizar obras como construção de açudes, represas nos rios, e frentes de trabalho para o agricultor poder se manter nos períodos de estiagem.

“Apela para março, que é o mês preferido, do santo querido Senhor São José, mas nada de chuva, ta tudo sem jeito, lhe foge do peito o resto da fé”.

Estamos sofrendo uma escassez de chuvas desde 2010. Este ano março e abril já se foram em maio e nada de chuva e ta tudo sem jeito de que vai chover. Carnaval acabou e a micareta também. Mas, já se fala nos festejos juninos. Festejar o que? Talvez o alto faturamento das bandas de músicas que cobram cachês altíssimos, que chega a ser uma afronta para quem sobrevive com menos de um salário mínimo e que está sem poder ganhar o sustento da sua família a cerca de três anos.

Terra moiada mato verde que riqueza, a asa branca à tarde canta, que beleza! Ai, ai, o povo alegre, mais alegre a natureza”

As festas juninas se realizam em junho, como o nome já diz, porque em tempos de chuvas regulares é época de fartura. Então quando a safra é boa, o agricultor se motiva a festejar. Cada cidade, povoado ou o mais simples arraial se enfeita todo para que o povo possa cantar, dançar, comer e brincar festejando o ano  bom de chuva e farto de comida. Isso é o que se entende pro festejar. Mas, com três anos de estiagem castigando as vidas secas do nosso sertão, não há nada para festejar. A única razão que vejo pra se fazer em festa junina em um tempo tão ruim como esse é o faturamento que os prefeitos poderão ter através de contratos espúrios com as bandas de música que, no final, lhes deixarão dinheiro na caixinha para a campanha eleitoral de outubro que vem.

“Quando o verde dos teus óios, se espaia na prantação, eu te asseguro viu, não chore não, viu, que eu voltarei, viu, meu coração”.

Eu tenho visto em muitos países artistas se unindo pra realizar shows beneficentes por esta ou aquela causa. Muitos artistas brasileiros, inclusive, pegam carona nessa idéia. Seria o momento adequado dos nossos artistas demonstrarem um mínimo de carinho e respeito por essa gente do nordeste que sofre com a seca, realizando mega shows nas praças das suas cidades, solicitando da população abastada doação de alimentos não perecíveis para distribuir com aqueles que os alimentaram por vários anos e que agora morrem de fome.

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