A Feiticeira, o Bicho do Tomba e o Leão
Quando eu era menino ouvia os
adultos conversando sobre um Carro de Bois Fantasma cujo som melancólico das
suas rodas invadia os ares das madrugadas, mas ninguém o localizava. Contam que
homens sérios e valentes saiam em grupos para “caçar” o carro fantasma, seguiam
seus sons, mas, quanto mais se aproximavam mais ele se distanciava. E ninguém
nunca o viu. São lendas feirenses que todos comentam, mas nunca se encontrou
nenhuma prova da veracidade delas.
Eu também ouvi falar sobre a
Feiticeira, ou melhor, Mãe de Santo, Helena do Bode. Essa eu conheci, a vi de
perto, era uma mulher negra, gorda, cujos olhos eram esbugalhados e muito
vermelhos, e era dona de um bode preto imenso, que ela tinha como bichinho de
estimação. Muitas estórias escabrosas eu ouvi sobre ela, que, segundo os
boatos, praticava magia negra, tinha pacto com o demônio, e que este se
incorporava no Bode nas sessões de magia negra. Todos a temiam, inclusive eu,
pois quando os adultos queriam me assustar, por conta de alguma peraltice,
diziam que iriam me entregar a Helena do Bode. Um amigo meu, muito espirituoso,
disse-me um dia. “Eu queria que um disco voador baixasse aqui em Feira pra eu
botar na frente dos alienígenas Ivete Sangalo e Helena do Bode, e eu queria ver
eles se convencerem que eram dois seres da mesma espécie e gênero”.
Já adolescente, ouvi um boato de que
um animal esquisito estava assombrando os moradores do então distante bairro do
Tomba, antigo Morro do Macaco. O Tomba, que ganhou esse nome porque os trens da
Leste Brasileiro que transitavam entre Feira e Cachoeira, eventualmente
tombavam ali, talvez por alguma deficiência nos trilhos ou no terreno, era
considerado Zona Rural. O trecho entre a estação da Leste, na Praça da Matriz e
o Tomba, por onde os trens passavam era margeado por diversas pequenas
propriedades rurais, chácaras, sítios e fazendas. Meu pai tinha uma fazendola
próxima aonde hoje eu moro, no Jardim Acácia.

Nos anos 70 eis que surge a “Loira
Sinistra”. Ninguém sabe de onde veio nem pra onde foi esse ser sombrio e
volátil que rondava as escolas e era suspeita de raptar crianças e adolescente.
Os relatos davam conta de que ela, sempre vestida de preto, muito loira e com
maquiagem carregada, atraia meninas e meninos e sumia com eles no seu carro
preto. Eu mesmo nunca soube de nenhuma queixa prestada por possíveis pais de
crianças e adolescente raptados.
Nos anos 80 começaram a surgir os
primeiros relatos sobre animais (e, mais tarde, até pessoas) aparecendo mortos
de forma misteriosa. As vítimas eram encontradas mutiladas nas mucosas labiais
e genitais, com cortes de precisão cirúrgica, perfurações circulares, e as
feridas pareciam cauterizadas. Como se não bastasse, sem uma gota de sangue em
seus corpos. Surgia aí a lenda do Chupa Cabras, com aparições registradas em
todo o globo terrestre e, é claro, diversas aparições em Feira de Santana.
Estamos na segunda década dos anos
2000 E aparece um animal que ninguém até agora sabe o que é e as pessoas, sem
muito o que fazer, publicam imagem montadas e informações falsas nas redes
sociais, atrapalhando as investigações e colocando todos em risco. Sim, porque
agora ninguém tem certeza se é apenas uma brincadeira de mau gosto, ou se há
realmente algum animal perigoso rondando pela região da cidade de Serrinha. Um
motorista de um açougue jura que viu um animal grande, provavelmente um felino,
andando à frente do caminhão que dirigia, e logo surgiu o boato de que ele
teria fugido do caminhão do circo Picolino, que nunca teve animais. Nem mesmo
pulgas adestradas, quanto mais onças e leões.
E aí, a paranoia geral começa a especular,
dando explicações estapafúrdias, com imbecis colocando-se como senhores de
grande conhecimento e ciência, e, de repente o felino passa a ser uma leoa, um
cachorro, ou até mesmo uma paca. Eu espero mesmo que estes boateiros deem de
cara com o bicho, se é que ele existe, é claro.
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