Em
experimento inédito no país, ele entrevistou um grupo de jovens violentos de 16
a 20 anos que cumpriam pena na Fase (Fundação de Atendimento Socioeducativo) do
Rio Grande do Sul. Ao final, pediu que indicassem um colega de infância sem
ligação com o crime e foi atrás dessas histórias.
Rolim
esperava que prevalecessem, no grupo dos matadores, relatos de violência
familiar e uso de drogas, mas outro fator se destacou: a evasão escolar (quando
o aluno deixa de frequentar a escola). E, aliado a isso, a aproximação com
grupos armados que "treinam" esses jovens a serem violentos.
Entre
os que cumpriam pena, todos, sem ex
ceção, tinham largado a escola entre 11 e 12
anos. E citavam motivos banais: são "burros" e não conseguem aprender,
a escola é "chata", o sapato furado era motivo de chacota. Os colegas
de infância continuavam estudando.
Ao
comparar esses e outros casos (111 ao todo), incluindo dois grupos de presos
jovens do Presídio Central de Porto Alegre, uns condenados por homicídio e
outros por receptação, e alunos de uma escola de periferia sem histórico
criminal, concluiu que o chamado "treinamento violento" respondeu por
54% da disposição para a violência extrema.
Em
outras palavras, isso significa que sem a experiência do "treinamento
violento" - aquela que ensina a manusear armas, bater antes de apanhar e
exalta atos de violência - a disposição para esses crimes extremos cairia para
menos da metade nos casos analisados.
As conclusões de Rolim, que foi vereador
em Santa Maria (1983-1988), deputado estadual (1991-1999) e deputado federal
pelo PT gaúcho (1999-2003) e hoje não tem filiação partidária, estão no livro
recém-lançado A Formação de Jovens Violentos - Estudo sobre a Etiologia da
Violência Extrema (editora Appris).
"Muitos meninos que se afastam da
escola são, de fato, recrutados pelo tráfico de drogas e são socializados de
forma perversa. E isso provavelmente deverá se repetir se a pesquisa for
reproduzida em outros locais, pois a diferença estatística foi muito forte",
diz Rolim à BBC Brasil.
A conclusão prática, segundo o
sociólogo, é que a prevenção da criminalidade deve levar em conta a redução da
evasão escolar, aspecto que costuma ser negligenciado no Brasil quando o
assunto é segurança pública. Considerados os índices de evasão escolar, o
cenário no Brasil seria, de fato, favorável à violência extrema.
Em 2013, por exemplo, uma pesquisa do
Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) mostrou que um a cada
quatro alunos que inicia o ensino fundamental no país abandona a escola antes
de completar a última série.
O Brasil figurava no estudo com a
terceira maior taxa de abandono escolar entre os 100 países de maior IDH
(Índice de Desenvolvimento Humano), atrás apenas da Bósnia e Herzegovina e do
arquipélago de São Cristóvão e Névis. Leia mais no BBCBrasil
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