Durante suas campanhas presidenciais
Lula chamou Sarney de ladrão e Itamar de filho da ****. Já eleito, quando
explodiu o escândalo das nomeações secretas no Senado e o coronel do Maranhão
estava para ser cassado, ele saiu em sua defesa dizendo: "Sarney tem
história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma
pessoa comum."
Ontem, durante depoimento a Moro, em
Curitiba, Lula disse: “Um político não é julgado pelo Código Penal. Um político é julgado pelo povo. E eu já fui várias vezes
julgado pelo povo”.
Um dos motivos de minha decepção com o
PT é este desrespeito institucional. Esta ideia paternalista, patrimonialista,
dos políticos brasileiros- não é só de Lula- é a raiz de todo mal de nossa
política. Nossos representantes acreditam que a execução de qualquer obra ou
avanço social, ainda que temporário, é um ato de favor, uma concessão ao povo e
não o dever de todo administrador. Estas ações funcionariam como um salvo
conduto para atos criminosas, um vale-night para cair na farra com o dinheiro
público, tornando-os inimputáveis.
Esta concepção arcaica, oportunista,
totalmente invertida da relação política está incorporada inclusive por muitos
cidadãos, de forma subliminar, de tão rotineira. Falta-nos a concepção de que o
ocupante do poder é um funcionário nosso, de que o governo é algo criado pelo
povo com o objetivo de oferecer-lhe o máximo incomodando-lhe o mínimo e não o
contrário, como acontece no Brasil.
Eleição não é atestado de idoneidade,
nem de conduta moral. Fosse assim, aboliríamos todas as instâncias
fiscalizadoras porque seriam obsoletas. Nosso grau de reverência e adulação
diante dos políticos é um atestado indiscutível de nosso atraso social e do
imenso abismo que nos separa das democracias mais avançadas. Lula, ontem,
apenas externou sua compreensão de estado e ética pública.
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