segunda-feira, 1 de maio de 2017

Os brasileiros que superaram o 'ensino massificador e chato' e viraram campeões da matemática

O que une um rapaz da zona sul do Rio e uma moça da zona rural que passou oito anos como noviça?

A distância entre eles diminui graças à paixão por números: o garoto da zona sul, Artur Avila, se transformou no primeiro brasileiro ganhador da medalha Fields, uma espécie de Nobel para matemáticos até 40 anos; a moça, Lucy Degli Esposti Pereira, desistiu de ser freira, voltou a estudar e abocanhou quatro medalhas em concursos nacionais.

Mas casos assim ainda são exceção. O abismo da matemática no Brasil persiste, e os resultados do país nos exames internacionais são sofríveis.

Dados de 2015 mostram que 70,3% dos estudantes brasileiros de 15 e 16 anos estão abaixo do chamado nível 2 em matemática no exame do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), avaliação realizada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Nesse nível, espera-se que os jovens interpretem e reconheçam situações "em contextos que não exigem mais do que uma inferência direta", ou extraiam informações relevantes de uma única fonte e utilizem modos simples de representação. A maioria dos alunos brasileiros não consegue fazer isso.

O nível 2, em uma escala que vai até o 6, é o patamar que a OCDE considera necessário para que os jovens possam exercer plenamente sua cidadania.

A nota média dos brasileiros em matemática no PISA 2015 foi de 377 pontos, significativamente inferior à média da OCDE (490), que reúne as economias mais desenvolvidas do mundo. E, embora a nota na área tenha subido 21 pontos de 2003 a 2015, caiu 11 pontos no intervalo entre os dois últimos exames (2012-2015). No ranking geral do PISA, o Brasil ficou em 63º lugar entre 70 países participantes.


Ex-noviça

Nota ruim em matemática nunca fez parte da vida de Lucy Pereira, aluna de uma escola da zona rural de Bom Jesus do Itabapoana, no noroeste fluminense. A jovem pensava em ser freira e ficou dos 16 aos 24 anos como noviça numa instituição voltada para a caridade. Depois que desistiu da vida religiosa, recomeçou os estudos no 6º ano do ensino fundamental.

Um dia disseram que havia uma prova nova, a Olimpíada Brasileira de Matemática de Escolas Públicas (OBMEP), e ela resolveu fazer. Ganhou medalha de ouro.

Depois disso vieram mais duas pratas e outro ouro, e Lucy entrou para o programa de iniciação científica oferecido aos medalhistas pelo Ministério de Ciência e Tecnologia por intermédio do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), centro de excelência em pesquisas e pós-graduação no setor. O Impa é um dos organizadores da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) e realiza também a OBMEP.

Lucy terminou o ensino fundamental em 2016. Aos 31 anos, começou neste ano o ensino médio no IFF (Instituto Federal Fluminense), onde faz curso técnico de agropecuária. Seus pais, um motorista de transporte escolar e uma merendeira, têm dez vacas, e ela quer ajudar a família a gerir o pequeno rebanho. Mas seu sonho mesmo é fazer Engenharia Civil.

"Quando saí do convento, estava depressiva e voltar a estudar já adulta parecia difícil. A matemática me mostrou um rumo. Podem achar que passei da idade, mas dá tempo ainda", afirma. Lei mais no BBCBrasil



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