domingo, 21 de maio de 2017

Operação Temer, delação hiperpremiada, o que é e o que parece

A semana em que o apocalipse foi anunciado acaba com muitas dúvidas e raras certezas. Alguns fatos, entretanto, merecem ser destacados pela necessidade de esclarecimento:
1-      O presidente da República só pode ser processado por atos cometidos durante o mandato. Crimes anteriores apenas após o encerramento do período.
2-      Ao ser revelado pelo O Globo foi usado um trecho que, supostamente, dizia que Temer havia sugerido a Joesley (JBS): “Mantenha isto” (mesada a Cunha). Durante o dia o tema foi explorado a exaustão. Escrevi, logo ao ínicio, que o áudio não mostrava isto, pois, a fala era anterior a de Joesley, como acabou se revelando.
3-      Escrevi que mais grave que isto era o fato de Temer ter ouvido sobre “segurar juízes e procuradores” e nada ter feito, pois, poderia configurar prevaricação.

4-      Temer ter recebido um empresário processado, na calada da noite, sem agenda, sugere uma intimidade que não fica bem para o Presidente, mas não é crime.
5-      Autorização para procurar um indicado seu, deputado, para resolver problemas no governo, não é crime, mas a prisão de um homem de sua confiança com uma mala de R$500 mil dado por Joesley precisa ser explicado.
6-      As demais denúncias, assim como as da Odebrecht, já implicam a necessidade de Temer ser investigado, mas são crimes anteriores ao mandato. Ninguém lidera o PMDB por tantos anos sem culpa no cartório, por mais astuto e esperto que seja.
7-      Basear uma denúncia contra um Presidente da República, jogar o país no escuro, sem sequer fazer uma perícia no áudio, com a PF, foi de uma irresponsabilidade indescritível da PGR de Janot, esteja editado ou não.
8-      Há sérias duvidas se o áudio tem edições ou não, com peritos se contradizendo, mas isto apenas prova a necessidade que a PGR cumprisse o básico. O país perde bilhões enquanto esta discussão é feita.
9-      O acordo da JBS escandaliza os brasileiros, pois, é um acordo diferente de todos os outros, inclusive Odebrecht, com uma generosidade inexplicável já que o réu pode sair do país- aliás, o outro delator da empresa, incrivelmente, também manteve o passaporte-, não usará tornozeleira, poderá comandar a empresa, não precisará mais depor, e pagará uma multa ridícula, que, aliás, já ganhou especulando em dólar (R$1 bilhão de dólares) com a informação privilegiada de sua delação.
10-   A PGR segue em sua solene soberba e não vem a público dar satisfações a população.
11-   Acredito, particularmente, em toda culpa de Temer, da corrupção continuada -e de todos os outros apontados na delação, incluindo Aécio, Dilma e Lula-, mas o que se discute é a base legal do processo, pois, há evidente esforço de interpretação de Janot, que está concluindo seu mandato.
12-   Quem orientou a delação de Joesley foi um ex-procurador do grupo de Janot, que deixou de ser procurador dia 6, para se tornar advogado. Dia 7, o Joesley gravou Temer. Daí o monumental benefício desta delação. Este é o critério da PGR?. Um homem que corrompeu a nação de todos os jeitos roubou, sair livre, em troca do mandato de Temer,  de um ano, quando ele e Aécio já estavam liquidados com a delação da Odebrecht?  Foi um preço caro demais nesta decisão de Janot.
13-   Há dúvidas sobre uma off-shore da JBS no exterior que só Joesley sabe o nome do dono, mas a PGR não esclareceu o assunto.
14-   Então, embora a torcida de um ou outro lado fique apontando seus dedos e bandeiras de torcedores, não se trata de duvidar do passado pantanoso, cúmplice e pecador de Temer- sem dúvida merecedor de condenação futura- mas deste movimento nitidamente desenhado para seu afastamento, com pesada utilização da mídia no lançamento do fato e no esforço para que isto se viabilize. Parece mais um processo “salve JBS”, que “ restaure-se a honestidade’, mas que une o útil ao necessário.
15-   Não sei onde Temer mexeu, mas há múltiplos interesses neste movimento.
16-   Governabilidade é diferente de legalidade. Do ponto de vista de governabilidade, com tantas acusações nas  delações,  conduta inadequada ao cargo,  processado no STF, perda de partido e tendo rifado o mínimo de crédito que tinha, com relações como a de Joesley, creio que Temer a perdeu completamente e não terá como levar o governo adiante, arrastando-se e sangrando, em cenas cada vez mais deprimentes, sem capacidade de aprovar reforma nem pra comprar um Chicabon. Deste ponto de vista a operação foi um sucesso.
17-   Há muitas opções, mas a melhor, presidente,  é a renúncia e obedecer a Constituição. O livrinho nunca faz mal. 

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