As ações das companhias aéreas
despencaram em uníssono, em todas as bolsas do mundo. A American
Airlines, maior aérea do mundo, perdeu metade do seu valor de mercado em
duas semanas (ou seja: o valor de cada uma das ações que ela negocia na
Bolsa de Nova York caiu 50%). A Gol, maior do Brasil, idem: tombo de
50% por aqui também.
É como se alguém tivesse
inventado o teletransporte, e tornado a aviação comercial algo tão
obsoleto quanto o mercado de máquinas de escrever, de chapéus panamá e
de Liquid Paper.
Esse é tamanho do pânico.
O risco de pegar coronavírus dentro de
um avião não é necessariamente maior do que dentro de um vagão de
metrô, no balcão de um bar lotado, ou no banheiro do escritório – pelo
menos se a sua passagem não for para Wuhan, Milão ou algum outro
epicentro do vírus. Mas o que importa não é a realidade dos fatos: é a
forma como as pessoas interpretam os fatos. E a dedução coletiva passou a
ser a de que aviões são antros atulhados de coronavírus.
Paciência: as pessoas também acham que
sair de casa sem blusa dá resfriado. O que dá resfriado é um vírus que
fica mais ativo quando o ar está frio. São 200 tipos de vírus, na
verdade. Eles entram pelos orifícios que a gente tem na cara, e não
sabem se você está de blusa ou não. A correlação entre frio e resfriado,
porém, alimenta a ideia de que, se você aquecer o corpo, vai estar mais
protegido. E a lenda persiste.
As lendas do corona vão entrando para o
imaginário urbano. A mais proeminente talvez seja a das máscaras. Elas
são úteis, sim: se você for um paciente assintomático, e não souber que
carrega o vírus, não vai sair transmitindo o bichinho no metrô. Se você
não tiver o vírus e sentar ao lado de um sujeito que tem, e que acabou
de espirrar, sua chance de contágio vai diminuir sensivelmente.
Mas não basta qualquer máscara. De acordo com a OMS, você precisa de uma padrão PFF2/N95
para ter uma proteção efetiva – além de seguir direitinho as regras de
uso (se você tiver barba, por exemplo, talvez seja hora de tirar a gillete da gaveta). Ou seja: usar uma máscara qualquer só serve mesmo como fantasia de Carnaval fora de época.
Mas tem outro lado nessa história.
Seja qual for a letalidade dessa pandemia, o fato é que ela pode mudar a
sociedade. Em alguns casos, para melhor. A pandemia foi (e está sendo) a
maior experiência de home office da história da humanidade. Boa parte
dos trabalhos, hoje, dispensam a existência de escritórios, por cortesia
da nossa amiga internet.
Só que a maior parte de nós segue, por
embalo, batendo cartão e se deslocando por horas para fazer no
escritório tarefas que a gente poderia resolver de casa. A experiência
com o Corona, porém, pode deixar claro que o home office não é um
bicho-papão, e tornar o trabalho de todo mundo um pouco mais flexível.
Outra coisa que as empresas talvez
aprendam é que boa parte das viagens de avião a trabalho são inúteis.
Podem ser substituídas por um email, ou por uma conversa rápida no
Whats. Uma eventual diminuição das vigens improdutivas seria ótima para
os acionistas, já que cortes nesse tipo de gasto são lucro na veia. Uns
meses de paúra anti-avião, e uma boa dúzia de viagens corporativas
desmarcadas, podem ser úteis para introjetar o conceito de que o mundo, e
os negócios, seguem girando na ausência de reuniões presenciais pouco
produtivas. Porque esses rolês não vão se tornar obsoletos quando
criarem o teletransporte. Eles já o são, desde a invenção do telefone.
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