
No Brasil, que lentamente foi
adquirindo a lideranças do número de vidas perdidas, não há como evitar a
sensação de omissão, ou erro, das autoridades responsáveis, inclusive, o
Presidente da República. O desastre pode ser medido pela demissão de
dois ministros da Saúde e um ministério militarizado, com alta densidade
de força e limitadíssima densidade de ciência, justamente o elemento
mais essencial ao enfrentamento. Como se já não fosse pouco a falta de
empatia e de solidariedade que mantém com as vítimas, expressas em
frases como é uma “gripezinha”, “vão morrer alguns idosos”, “é invenção
da imprensa”, “eu não sou coveiro”, “e dai?”, ele, ainda tentou, ao fim,
esconder os números da pandemia e terceirizar a culpa para
governadores, que não a podem ter, sozinhos. Até mesmo as boas medidas
econômicas não foram corretamente comunicadas, para aliviar a população.
Em verdade, o presidente funcionou
como força contrária até a atos comprovadamente benéficos de redução da
contaminação como uso de máscaras e distanciamento social. Não há
relativização possível a respeito da responsabilidade lhe cabe, pois,
vivenciamos aqui – nesse ponto não só por ele, mas por muitos-, o mais
bizarro e perigoso modelo de enfrentamento a essa doença originária da
China.
Foi por esse conjunto de falta de
liderança central, governadores corruptos, ativismo de redes sociais
divulgando informações imprecisas, OMS incompetente, atos
irresponsáveis, que construímos esse silêncio fúnebre de 50 mil vozes
ausentes- por enquanto-, inaudíveis, mas sinalizadoras de uma
ensurdecedora tragédia biológica, política, e sobretudo humana. Não
haverá reparações e o tempo não apagará os heróis, especialmente os da
saúde, nem esquecerá de cobrar os que contribuíram para ampliar sua
magnitude, e retirar vidas do seu caminho natural.
As vidas que se perderam antes de
serem todas vividas, os afetos que sobraram antes de serem todos
esgotados, as memórias que não puderam ser finalizadas, não podem ser
apenas soluços perdidos. Elas devem nos lembrar que os sinos dobram por
todos nós- ou quase todos- e devemos a elas a compunção por não termos
lutado toda luta possível, o enternecimento que a irmandade da dor
constrói, e a força de nos mantermos indignados
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