Em
uma carta aberta à Organização Mundial da Saúde (OMS), 239 cientistas
de 32 países pedem à entidade que reconheça oficialmente o “potencial
significativo” de propagação pelo ar do novo coronavírus. De acordo com o
texto, a velocidades padrões do ar em ambientes fechados, uma gotícula
contaminada pelo vírus é capaz de viajar “dezenas de metros”. Distância
que, segundo o grupo, é muito maior em ambientes fechados e sem
ventilação.
“Existe um potencial significativo de
exposição por inalação a vírus em gotículas respiratórias microscópicas
(microgotas) a curtas e médias distâncias (até vários metros, em
ambientes fechados e sem ventilação), e defendemos a utilização de
medidas preventivas para mitigar esta via aérea de transmissão”, diz o
texto.
O grupo cita alguns estudos que apontam “sem
qualquer dúvida” que os vírus são liberados durante a exalação,
conversa e tosse em microgotas suficientemente pequenas para
permanecerem no ar, representando risco de exposição a distâncias
superiores a 2 metros (m) de um indivíduo infectado. Por este motivo,
pedem que OMS revise os parâmetros de transmissão e cuidados para a
prevenção de contágio do novo coronavírus.
De acordo com a carta, publicada na página
da Sociedade de Doenças Infecciosas da América, da Universidade de
Oxford, na Inglaterra, em velocidades típicas de ambientes fechados, uma
gota de 5 micrômetros [cada micrômetro equivale a 1 milionésimo de
metro ou à milésima parte do milímetro] viajará dezenas de metros,
distância muito maior do que em ambientes abertos, e se instalará a uma
altura de 1,5 m do chão.
O texto lembra que organismos internacionais
e nacionais concentram suas orientações na lavagem das mãos, na
manutenção do distanciamento social de 2m e nas precauções contra as
gotículas – procedimentos que, de acordo com o texto, são “apropriados,
porém insuficientes para fornecer proteção contra microgotas
respiratórias portadoras de vírus liberadas para o ar por pessoas
infectadas”.
“Seguindo o princípio da precaução, temos de
abordar todas as vias potencialmente importantes para retardar a
propagação da covid-19”, acrescenta o grupo de cientistas ao listarem
uma série de medidas que devem ser tomadas para evitar a transmissão por
via aérea: “Na nossa avaliação coletiva existem provas mais do que
suficientes para que o princípio da precaução seja aplicado. A fim de
controlar a pandemia, enquanto se aguarda a disponibilidade de uma
vacina, todas as vias de transmissão devem ser interrompidas”.
Medidas sugeridas
Entre as medidas sugeridas está a
“ventilação suficiente e eficaz” de ambientes internos, por meio de ar
exterior limpo, de forma a minimizar a recirculação, como equipamentos
de ar-condicionado, “particularmente em edifícios públicos, ambientes de
trabalho, escolas, hospitais, e lares de idosos”.
Os cientistas sugerem também trocar a
ventilação de ar-condicionado, por exaustores e filtros de ar de alta
eficiência, além de luzes ultravioleta germicidas.
Por fim, sugerem que se evite aglomeração de pessoas, particularmente em transportes públicos e edifícios públicos.
“Tais medidas são práticas e muitas vezes
podem ser facilmente implementadas; muitas não são dispendiosas. Por
exemplo, passos simples como a abertura de portas e janelas podem
aumentar dramaticamente as taxas de fluxo de ar em muitos edifícios”,
complementam os especialistas na carta aberta.
Os cientistas finalizam o documento com um
alerta de que, ao implementarem as atuais recomendações de
distanciamento de 2 m, as pessoas podem pensar que estão totalmente
protegidas, quando, na realidade, “são necessárias intervenções aéreas
adicionais para uma maior redução do risco de infecção”.
Este assunto é de grande importância no
momento em que vários países estão reabrindo estabelecimentos comerciais
e flexibilizando o isolamento social, com as pessoas voltando aos
locais de trabalho e estudantes voltando às escolas, faculdades e
universidades, alertam os cientistas.(Agência Brasil)
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