Em meio à corrida por um tratamento 
ou vacina contra a Covid-19, uma nova técnica está sendo desenvolvida em
 um lugar incomum: pastos. A empresa de biotecnologia americana SAb 
Biotherapeutics anunciou que começará em breve os testes clínicos de um tratamento contra o SARS-CoV-2 que envolve anticorpos produzidos por vacas.
Anticorpos são substâncias fabricadas
 naturalmente pelo nosso corpo – e pelo corpo de outros animais – quando
 um microrganismo é identificado pelo sistema imune. Cada anticorpo 
possui um formato específico para se ligar a uma parte do invasor (como 
uma proteína do vírus, por exemplo) e neutralizá-lo. Vacinas, por 
exemplo, conseguem fazer com que nosso corpo produza anticorpos por 
precaução antes de termos contato com o causador da doença, o que nos 
torna imunes. Na falta de uma vacina, uma outra técnica é tentar injetar
 anticorpos prontos em nosso corpo para combater o vírus.
Várias iniciativas do tipo já estão 
sendo desenvolvidas. Um exemplo é o chamado plasma convalescente – 
basicamente, o sangue de pessoas que pegaram Covid-19 e se curaram, o 
que significa que possuem anticorpos para o vírus. Esse plasma resulta 
em um soro rico em anticorpos, que pode ser injetado em pacientes com a 
doença, como um exército pronto para combater o vírus.
Estudos iniciais mostraram que a prática é aparentemente segura e 
pode trazer bons resultados, embora ainda faltem pesquisas mais 
aprofundadas que cravem sua eficácia – não sabemos de fato o quão bom 
nossos anticorpos são, nem quanto tempo duram, por exemplo.
Outro meio que muitas empresas e 
laboratórios vem pesquisando é o de fabricar os tais anticorpos em 
laboratório, através de culturas de células. Mas essas pesquisas focam 
em apenas um tipo de anticorpo para ser produzido em massa, capaz de 
reconhecer apenas um “pedaço” específico do vírus (são chamados de 
anticorpos monoclonais). Utilizar animais para produzir anticorpos pode 
gerar uma variedade de substâncias diferentes, chamados anticorpos 
policlonais, que podem reconhecer várias características do invasor – 
algo que é mais similar ao que acontece em nosso corpo.
Ótimo modelo
Segundo a empresa, as vacas são um ótimo modelo para se produzir anticorpos porque possuem muito mais sangue do que outros animais testados em técnicas parecidas (como macacos, por exemplo).
O processo de produção é mais 
complexo do que simplesmente injetar o novo coronavírus em vacas e 
depois colher seu sangue, é claro. Primeiro, as vacas precisam ser 
geneticamente modificadas para que algumas células de seu sistema 
imunológico passem a ter a mesma sequência de DNA que possibilita que 
humanos produzam anticorpos – assim, os anticorpos produzidos por ela 
serão compatíveis com o nosso organismo.
Depois, as vacas recebem um pedaço do material genético do vírus para
 seu sistema imunológico se preparar e conseguir defender o organismo. 
Por fim, proteínas virais são injetadas nos animais, que começam a 
produzir anticorpos específicos para elas. Segundo a empresa, todo o 
processo dura sete semanas – o que é relativamente rápido.
Em testes em laboratório, o soro 
resultante, chamado de SAB-185, foi até quatro vezes mais efetivo em 
neutralizar o vírus do que o plasma convalescente de humanos, segundo informações divulgadas pela própria empresa – um número bastante promissor para um novo tratamento.
O sucesso pode ser explicado, em partes, pelo fato de a empresa não 
testar algo totalmente novo: antes do surgimento do novo coronavírus, a 
técnica já havia sido usada com sucesso para produzir anticorpos contro a
 Síndrome Respiratória do Oriente Médico (MERS), doença causada por um 
outro coronavírus do mesmo grupo do SARS-CoV-2, além de outras infecções
 virais.
Vale lembrar, porém, que os testes em
 humanos ainda não começaram, e nem tudo que funciona em laboratório 
também têm resultados positivos em nosso organismo. Até agora, nenhum 
tipo de tratamento baseado em anticorpos de animais foi aprovado. A 
empresa anunciou que começará os experimentos nas próximas semanas, com o
 objetivo de descobrir se os anticorpos podem ser utilizados para 
garantir prevenção temporária ao vírus em pessoas saudáveis. (Super Interessante)

 
 
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