terça-feira, 2 de junho de 2015

Na carona

       
 Há duas maneiras para que alguém alcance fama e reconhecimento rapidamente: Realizando um grande feito ou tirando uma sorte grande na loteria. Porém, há alternativas. Uma delas, mais lenta e nem sempre garantida, é com trabalho árduo e perseverante. Mas a maneira mais fácil é pongar no sucesso dos outros. Aderir a modismos também é um jeito de se tornar conhecido. E quando falo sobre isso lembro de uma época em que uma celebridade lá dos “isteites” adotou uma criança africana, órfã e faminta. Aqui no Brasil então virou moda. Tinha socialite disputando a tapa o direito de adotar um “africanito”. Como se ali, bem ao lado delas, nas favelas do Rio e São Paulo não houvessem crianças órfãs e famintas.
         Eu conheço pessoas que trabalham pesado para minorar o sofrimento dos seus semelhantes, outras que se dedicam a projetos sociais de cultura e arte, formação de mão de obras, entre outros meios de inclusão social, e que nunca são observadas pela sociedade e, ao contrário, muitas vezes são criticadas, caluniadas e hostilizadas, principalmente por quem deveria e poderia fazer, mas nada faz. Mas basta aparecer num programa de TV, mesmo por razões menores e fúteis até, para virar celebridade e passar a ser assediada, imitada e bajulada por oportunistas de todos os naipes.
         Não tiro o mérito de quem fez por merecer, mas me dá nojo a ação dos caronistas, dos punguistas sociais, que se aproximam da pessoa em foco oferecendo préstimos com o único intuito de tirar proveito da visibilidade alcançada por aquela, ainda que momentânea. Dizem por aí que sou grosso e mal educado. Mas a verdade é que eu sei reconhecer um oportunista quando vejo um, e em sendo eu um jornalista muito conhecido na cidade, não faltam picaretas tentando se aproximar de mim para tirar algum proveito do meu bom nome. Nesses casos, eu sou grosso, mal-educado, estúpido mesmo. Um pedaço de cavalo batizado. Mas quem bateu à minha porta com uma demanda justa, só não foi atendido se eu não tivesse mesmo como fazê-lo.
         Mas essa lengalenga toda é para falar do garoto que apareceu no programa do Faustão e que quer montar uma biblioteca no vizinho município de Santanópolis. Só tenho aplausos para a atitude dele e para aqueles que querem ajuda-lo neste mister. Contudo, tenho duas observações a fazer: A primeira é que, por experiência própria, descobri que ninguém mais está interessado em ler livros. Dizem que é por causa do computador. Mas através do computador se tem acesso a grandes bibliotecas, a um sem número de livros disponibilizados, pra fazer download ou simplesmente ler, e poucos estão acessando. Hoje em dia se pode ler livros até no celular.
         A segunda observação é que Feira de Santana é uma cidade sem memória. A nossa história recente não está documentada. Até já me propus a participar de um projeto neste sentido (agora não posso mais), mas gostaria de ver essa energia, essa vontade, esse esforço coletivo demonstrado em ajudar o garoto de Santanópolis, voltados também para projetos na nossa cidade, sem que haja necessidade de aparecer na TV. Será que é pedir demais?


Nenhum comentário: