sexta-feira, 26 de junho de 2015

O Fluminense

          O clube feirense já nasceu com o nome errado. Mas eu até entendo. Naquela época os clubes do eixo Rio São Paulo inspiravam os torcedores e desportistas do resto do País. E tome-lhe Botafogo, Vasco, Corinthians, e o escambau do Ovo da Ema. Tem Flamengo até no Piauí. Então, vá lá que seja o Fluminense de Feira Futebol Clube. Quando eu era criança eu até ia pro Jóia da Princesa com meus irmãos e amigos assistir e torcer pelo clube da “terrinha”, embora eu gostasse mesmo era do Esporte Clube Bahia.
Aqui em Feira tinha, e até ressuscitaram recentemente, o “Bahia de Feira, grande rival do Fluminense. Era divertido. Era o melhor programa domingueiro da cidade. Curar a ressaca das boates de sábado nas piscinas dos clubes sociais e, após o almoço com a família, ir ao estádio assistir aos jogos do Fluminense que, com méritos, conquistou dois títulos estaduais.
        
Mas, foi justamente a partir de 1969, logo após conquistar seu segundo título baiano, que a derrocada começou. A família que investiu no clube resolveu retirar seu investimento, vendeu os melhores jogadores do clube, pegou seu dinheiro de volta e saiu de cena. Aí apareceram os “Salvadores da Pátria”. Não faltou quem quisesse pongar no sucesso recente do clube.  Fosse para fisgar alguns votos, fosse para aproveitar o ensejo para faturar algum. O fato é que o clube começou a se afundar em dívidas e a realizar campanhas medíocres nos torneios que disputava.
Em meados dos anos 80, surgiu uma oportunidade de soerguimento para o clube. O Empresário José Mendonça, que mantinha aqui em Feira uma rede de supermercados, foi convidado a participar da vida do clube. E ele não se fez de rogado. Àquela época a empresa italiana Parmalat, financiava a equipe do Parma, na Itália, e a do Palmeiras, aqui no Brasil. Ambas equipes brilhavam nos torneios que disputavam e seus jogadores integravam as seleções dos seus países.
A rede de supermercados Mendonça era cliente da Parmalat, e José Mendonça começou a entabular negociações para que a Parmalat viesse a financiar o Fluminense de Feira. Era um sonho até então considerado impossível. Seria o soerguimento definitivo. Dali em diante o Fluminense figuraria entre os grandes clubes do Brasil. Porém, os italianos queriam, é claro, que José Mendonça fosse o gestor do clube, representante dos interesses da Parmalat na Bahia. Todos aceitaram, é claro, que José Mendonça fosse o presidente do clube, mas, a diretoria permaneceria a mesma. Ele não teria o direito de nomear seus diretores. Mendonça, que de besta só tem a cara, não aceitou e morreu a grande oportunidade do Fluminense sair da petição de miséria em que se encontrava.
Vieram os anos 90, entramos no novo milênio e o clube ia de mal a pior. Não faltaram campanhas, doações de patrimônio, jogadores da base vendidos, e nunca o clube se erguia sem que ninguém soubesse onde ia o dinheiro. O então deputado Tarcízio Pimenta assumiu a presidência do clube e focou sua administração do saneamento das dívidas, principalmente as trabalhistas. Quando deixou a presidência, das mais de 30 questões trabalhistas, restavam apenas quatro para serem resolvidas. Seis meses depois já havia mais uma carrada de questões trabalhistas pendentes. Um terreno doado ao clube, situado às margens do rio Jacuípe, nunca foi ocupado e acabou invadido e está em questão até os dias de hoje.
Entramos no terceiro milênio, e o professor e empresário Jodilton Souza resolveu investir no Fluminense. Fez algumas contratações e a equipe parecia estar se acertando. Porém, incentivados por adversários e políticos que queriam assumir o clube para usá-lo como moeda de troca por votos, torcedores começaram a hostilizar Jodilton. Posicionavam-se em frente ao setor de cadeiras e tribunas, e de lá xingavam o empresário. Jodilton, que não tem sangue de barata, deixou o clube. “Estou com meu dinheiro no clube, e me chamam de ladrão”? – Queixou-se ele comigo certo dia. Deixou o Fluminense, comprou a Associação Desportiva Bahia de Feira, venceu o torneio de acesso e no primeiro campeonato da primeira divisão que disputou, foi campeão. Poucos anos depois o Fluminense foi rebaixado à segunda divisão.

Este ano ele conquistou o direito de voltar à primeira divisão do campeonato Baiano. Acredito em Gerinaldo, Luiz Paolilo e outros abnegados, verdadeiros torcedores, que tomaram as rédeas do clube e o levaram a esta conquista. Mas existem forças ocultas que corroem os alicerces do clube e não o deixam crescer. E contra elas, ser honesto não é suficiente. É preciso identifica-las e não ter medo de expurga-las da vida do clube de uma vez por todas. Se isso não for feito, o Fluminense nunca será grande.

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