quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Deixando a vida acontecer


        Talvez por ter sido abandonado pelo mau pai quando nasci. Talvez por ter sido criado por uma família cujo filho mais novo era mais de dez anos mais velho que eu. Talvez por ter demorado mais que o normal para fazer amigos. Eu não saberia realmente apontar uma causa, mas o fato é que nunca fui muito apegado à filhos. Criei e amei dando o melhor de mim. Gostava de estar com eles, brincar com eles, atender suas expectativas em relação ao que seria um pai. Mas sempre fui muito rígido, e não seria por ser meu filho que eu passaria a mão pela cabeça em questões disciplinares. Não é segredo que tenho dois filhos homens de um primeiro casamento, e uma mulher e um homem do segundo casamento, além de ter adotado um garoto quando já tinha dez anos, hoje, um homem casado e pai de um casal de filhos.

         Com nenhum deles fui muito cheio de “cuidados” no que diz respeito a viver. Afora aquelas recomendações que até compete mais às mães, sobre como evitar acidentes, respeitar as pessoas, fazer deveres da escola, etc. sobre viver mesmo, eu deixava acontecer. Estava sempre atento pra que ninguém ameaçasse ou abusasse dos meus filhos, mas lá entre os amigos deles, eu deixava que se entendessem. Se faziam alguma besteira e se machucavam física ou moralmente, eu sabia confortá-los e dizer: “Que lhe sirva de lição”! Sim. Porque o que não mata ensina. Meus filhos brincavam na rua, tomando chuva e sol, caindo da bicicleta, levando topada, ralando o joelho, quebrando o braço, pegando resfriado. Tudo isso os fortaleceu. Exatamente como aconteceu comigo. Só quem me conhece bem sabe o quanto minha saúde era frágil e a mudança que se operou em mim depois dos 15 ou 16 anos.

Tudo isso para dizer o quanto ando triste e preocupado com as nossas novas gerações. Converso com alguns amigos e eles têm a mesma opinião. Nossa juventude é frouxa! Os pais preocuparam-se mais em mimá-los do que os educar, preparando-os para a vida. É triste ver uma criança de 4 ou 5 anos que não sabe se vestir sozinha. Uma moça ou um  rapaz de 12, 13 ou 14 anos que não saiba preparar sua própria comida. Não sabem costurar, consertar alguma coisa que se quebra numa casa, lavar a própria roupa. Vivem encastelados atrás de um celular, computador ou algo que valha, ocupando-se apenas de futilidades.

Essa geração tem nas mãos ferramentas poderosas para adquirir conhecimento, estudar, realizar trabalhos, produzir algo de útil para si mesmos ou para ganhar dinheiro, mas não aproveitam a oportunidade que a tecnologia moderna está lhes dando. Crescem e se tornam analfabetos funcionais. Muitos enveredam pelas drogas ou pelo mundo do crime. Vivem em busca de fama e dinheiro fácil, e quando não encontram, se perdem. E mesmo aqueles que galgam alguma formação e conseguem bons empregos, não se aventuram muito fora de suas casas ou locais de trabalho, vivendo isolados, com medo, dentro de um mundo virtual. Se a vida, de verdade, os convocar para viver, eles não saberão como. E perecerão.

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