As operações
da Polícia Federal, além da repercussão pela investigação e prisões, ganham
fama também por conta dos nomes inusitados. Dessa vez, a 23ª fase da Lava Jato,
batizada de Operação Acarajé, gerou revolta entre os movimentos negros da Bahia
e as baianas do acarajé.
Se para
alguns o acarajé é apenas uma iguaria, para os adeptos do candomblé é uma
comida ritual para a orixá Iansã.
“Não é
simplesmente vender acarajé. Tem um ritual, a hierarquia da família, a história
do acarajé. Porque todas as baianas do acarajé são filhas de Iansã, porque
ninguém trabalha com o acarajé a toa”, explicou a baiana Dulcimari de Jesus.
De acordo com
a Polícia Federal, o nome foi escolhido em alusão ao termo utilizado por alguns
investigados dessa fase para nominar o dinheiro em espécie envolvido no esquema
de corrupção. A coordenadora da Associação Nacional das Baianas de Acarajé
(ABAM), Rita Santos, considerou a a associação do termo a um assunto negativo
uma ofensa à tradição religiosa.
“Foi difícil
de ver a associação de uma oferenda de um orixá a um grupo de ladrões. Não vai
ter impacto na hora de a baiana vender, mas vai haver [impacto] no mundo todo,
porque sempre que se falar em acarajé, as pessoas vão ligar uma coisa à outra”,
avaliou.
Nota de repúdio
A organização
não governamental Coletivo Entidades Negras publicou nota de repúdio contra o
uso do nome acarajé para a operação, que prendeu pessoas suspeitas pagamento de
propina esta semana, entre elas o publicitário João Santana, responsável por
campanhas eleitorais do PT.
Na nota, a
organização alega que “nada justifica a escolha deste nome para a operação” e
pondera que o acarajé “é alimento sagrado para as pessoas que, em todos o país,
cultuam os orixás”. A entidade diz que a escolha da PF demonstra “total
desrespeito religioso a um elemento sagrado do candomblé, desrespeitando toda a
tradição e história da religião no Brasil”.
A entidade
ingressou no Ministério Público com um pedido de mudança no nome da operação. (BBCBrasil)
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