terça-feira, 1 de março de 2016

Professor da USP diz que Governo 'está chutando' sobre Zika e pode protagonizar 'escândalo global'


Apesar de o ministro da Saúde, Marcelo Castro, dizer que não há mais dúvidas de que o zika causa microcefalia em recém-nascidos, há quem questione a afirmação e critique o tom de certeza do governo.
"É questão superada", disse recentemente Castro, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. "A causa da epidemia de microcefalia é o vírus Zika. O que não tem resposta ainda é se o vírus é causa suficiente para provocar microcefalia ou se precisa de alguns fatores contribuintes."
Para o professor de epidemiologia da USP Alexandre Chiavegatto, porém, qualquer cientista que analisar com rigor as evidências que vêm sendo enumeradas pelo ministro para provar essa relação causal se dará conta de que elas são insuficientes.
"Se formos analisar isso com rigor científico, o governo está chutando, tem quase que um palpite de que o Zika causa microcefalia. E o problema é que se estiver errado poderá ser responsabilizado pelas consequências do pânico que causou. Seria o maior escândalo global da área de saúde dos últimos anos. Tema de tese, de livro", disse ele à BBC Brasil.
O professor da USP faz a ressalva de que não está dizendo que o vírus Zika não causa microcefalia. "É possível que sim", completa. "Hoje, se eu tivesse de apostar, ainda colocaria minhas fichas na existência dessa relação (de causa), mas ciência não é aposta e temos de admitir que estão surgindo evidências que mostram que precisamos de mais pesquisas."
No momento, a comunidade científica parece estar dividida sobre o tema.
Parte diz acreditar que os estudos sejam suficientes para fazer essa relação causal entre zika e microcefalia.
Entre as pesquisas citadas por essa parcela estão um trabalho publicado no mês passado na revista científica The New England Journal of Medicine, que relatou o caso de uma jovem da Eslovênia, infectada por zika em Natal (RN), no primeiro trimestre da gestação.
O estudo está sendo considerado o mais completo já realizado por contar com imagens do feto, análises patológicas do cérebro danificado pelo vírus e o sequenciamento completo do vírus da zika encontrado nas estruturas cerebrais do bebê.
"Para mim, é evidência definitiva. Não se fala em outra coisa entre os cientistas", disse em uma entrevista recente o infectologista Esper Kallas, também professor da USP. Leia matéria completa na Agência Brasil



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