Um novo teste feito a partir de
amostras de sangue se mostrou efetivo em identificar até 50 tipos de
câncer em estágios precoces, alguns dos quais são raros e de difícil
diagnóstico. Em estudo preliminar publicado na revista Annals of Oncology, o teste atingiu uma taxa de acerto de até 99.3%, dependendo do caso.
Desenvolvido pelo Instituto do Câncer
Dana-Farber, uma instituição ligada à Faculdade de Medicina da
Universidade Harvard, o novo teste não só detecta quando uma pessoa tem
câncer como também consegue indicar qual órgão pode estar sendo afetado
pela doença. Embora o teste tenha maiores taxas de acertos em casos de
cânceres avançados, ele também se mostrou efetivo mesmo em estágios
iniciais em alguns tipos de câncer – algo essencial para aumentar as
chances de sobrevivência do paciente com tratamento.
O teste funciona a partir de pedaços
de DNA livres, que ficam vagando livremente pelo sangue do paciente após
uma célula, saudável ou não, morrer e liberar seu material genético na
corrente sanguínea. Quando esses
pedacinhos de DNA são encontrados, o teste analisa os chamados perfis de
metilação, processo em que um grupo molecular chamado metil se liga a
um dos carbonos da fita de DNA, ajudando a ativar ou desativar genes
específicos.
Células saudáveis tem um perfil de
metilação bem diferente de células de tumores, ou seja, os lugares onde
os grupos metil se ligam na sequência genética são distintos e
característicos. Usando isso, é possível encontrar pedaços de DNA
liberados especificamente por células de câncer no sangue dos pacientes,
indicando a doença. A análise dos
perfis de metilação é feita por um algoritmo desenvolvido
especificamente para identificar essas diferenças e descobrir em qual
órgão o câncer está presente.
SEegundo os pesquisadores, o método
baseado nos padrões de metilação é ainda mais eficiente do que aquele
que vasculha o DNA livre em busca de mutações características do câncer –
as diferenças de metilação entre uma célula saudável e uma de tumor são
ainda maiores do que as diferenças genéticas entre as duas.
No estudo, a equipe utilizou o método
para testar 6.689 amostras de sangues de pacientes, dos quais 2.482
tinham câncer e 4.207 não. Entre o grupo diagnosticado com a doença,
havia mais de 50 cânceres representados, incluindo os de mama,
colorretal, de estômago, nos ovários, leucemia linfoide e câncer de
pâncreas, entre outros. Os resultados mostraram que o teste só resultava
em um falso positivo – ou seja, indicava câncer em pacientes saudáveis –
em 0,7% dos diagnósticos.
O método, contudo, não se mostrou
perfeito, principalmente em casos no estágio inicial – dependendo do
tipo de câncer, o teste só conseguia apontar a presença da doença em
estado precoce 14% das vezes.
Mas ele se mostrou promissor em alguns
casos específicos, como no câncer de pâncreas, que é considerado de
difícil diagnóstico. O teste conseguiu identificar a doença 63% das
vezes quando se tratava de um estágio inicial, e chegou a acertar 100%
das vezes quando o câncer de pâncreas estava em estágio IV, o mais
avançado.
Além disso, quando o teste acertava
que a pessoa estava com câncer, geralmente também conseguia apontar em
qual órgão o tumor se apresentava (mais de 90% de acertos, nesse
cenário).
Apesar de serem resultados iniciais (e
o teste não ser perfeito), a equipe se mostrou animada com a
possibilidade de estabelecer mais uma ferramenta na luta contra a
doença. “O teste pode ser uma parte importante dos ensaios clínicos para
a detecção precoce do câncer”, disse Geoffrey Oxnard, coautor do
estudo, em comunicado. (Super Interessante)
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