Com a adesão de
Sérgio Carneiro, após passar década e meia no PT, ao grupo do prefeito José
Ronaldo, consolida-se o último ato de uma radical mudança na história politica
de Feira de Santana.
Feira,
tradicionalmente, sempre teve fortes grupos políticos que se alternavam no
exercício do poder, com admiradores apaixonados e filiados históricos. Um grupo
era liderado pelo ex-prefeito José Falcão(1930-1997), outro por Colbert Martins
(1928-1994), e um terceiro por João Durval Carneiro (1929), ainda que em alguns
momentos houvesse alianças e mudanças partidárias e outros concorrentes de
forte liderança.
Falcão foi
prefeito três vezes; Colbert, duas; João Durval, duas. Os dois primeiros já
falecidos e Durval – de todos o de maior sucesso, tendo chegado a governador da
Bahia, pelas mãos de ACM, e, Senador, na chapa do PT- ainda vivo.
Com a morte destes líderes e de Chico Pinto, emerge
como liderança solitária o atual prefeito José Ronaldo. Originário da Arena,
depois PDS, PFL e atual Democratas, Ronaldo foi vereador e deputado antes de
assumir como prefeito pela primeira vez em 2001 para um mandato que durou oito
anos.
O bom
desempenho em uma cidade que andava arrasada lhe deu a reeleição e permitiu que
elegesse o sucessor, o médico Tarcízio Pimenta, que fez um mandato sem
identidade, que não era mas não deixou de ser, uma extensão da administração
ronaldista.
Neste intervalo
foi candidato ao Senado, em 2010, tendo recebido 1 milhão de votos. A derrota
do governo estadual para o PT limitou, ou adiou, as possibilidades de Ronaldo
conseguir alcançar uma esfera administrativa maior em plano estadual ou
federal. Com o fraco desempenho do seu sucessor, ele disputou e venceu
novamente a eleição para prefeito em 2013, apesar do desgaste que a permanência
por longo tempo no poder costuma causar.
Nesta eleição Ronaldo
já tinha incorporado ao seu grupo o vereador Roberto Tourinho, herdeiro de
Falcão, antes na oposição, e que foi escalado para combater de forma implacável
o prefeito Tarcízio. Na eleição, em golpe de mestre, ofereceu o cargo de vice a
um adversário histórico, Colbert Filho, herdeiro do pai, que indicou Luciano
Ribeiro. Houve ranger de dentes de emedebistas históricos, mas que engoliram o
sapo e foram em frente. Colbert encolheu o número de votos.
Agora, Ronaldo,
consegue o apoio de Sérgio Carneiro, deputado nota dez, como ele gosta de ser
lembrado, único deputado a emplacar uma emenda constitucional e um dos braços
da família Durval, vindo de longo tempo na máquina de moer esperanças do PT.
Assim, ao
colocar os herdeiros dos três grupos mais importantes da politica feirense sob
sua administração, Ronaldo consolida seu projeto de poder ao limitar a
possibilidade de que qualquer um deles resgate o imaginário histórico, ou se
constitua uma força de oposição, de perfil moderado - distante do radicalismo da
esquerda - capaz de aglutinar os insatisfeitos, os que buscam um lugar ao sol,
ou os que estão cansados do estilo Ronaldo de governar e atrair o eleitor que
quer mudar, mas não confia nas lideranças esquerdistas.
Esta rara
unanimidade vai fazendo de Ronaldo o franco favorito para a reeleição o que o
converteria no recordista de mandatos (perde pra Heráclito Carvalho com seis,
mas com mandatos de dois anos, corrijam-me se estiver errado) e o exercício de
20 anos de poder, com possibilidade, ainda, de fazer o sucessor.
Verdade que
Ronaldo foi ajudado por uma oposição que mesmo tendo o governo federal e
estadual nas mãos por doze anos foi incapaz de agregar forças e construir uma
real alternativa administrativa, ou oposição sistemática, numa demonstração
fenomenal de rara inabilidade, sendo hoje menor do que no período inicial.
Evidente que esta concentração de poder não favorece o processo politico per
si.
É preciso, no
entanto, reconhecer a grande capacidade de articulação política do atual
prefeito, a habilidade de manter coeso um grupo onde, quem espuma insatisfação
ocasional pela inchação, não consegue cacife para voo longo.
Ronaldo, nem
deixou, nem alimentou forças que tivessem vida própria, talvez escaldado pelo
episódio Tarcízio, que nunca foi sua primeira opção - e sua disciplina
objetiva.
Ainda que não
seja de paixão popular aos moldes antigos e salvo tempestades políticas,
Ronaldo, com mais este passo, está conquistando o troféu de maior e mais
longevo líder político de todos os tempos de Feira de Santana. É um feito e
tanto.
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