
E estes, por sua vez, defendem-se como
podem. Maltratados, espezinhados, explorados, abandonados à própria sorte,
extorquidos e lesados das mais diversas formas, usam de artifícios (colocar
água é o mais comum deles) para aumentar a produção, preservar o seu produto e
baixar os custos. E nesta guerra surda, todos perdem, mas o mais prejudicado é
o consumidor, que se vê forçado a adquirir um produto caro é de péssima
qualidade, nocivo à saúde até.
Eu, que passei boa parte da minha
juventude numa fazenda de gado leiteiro e de corte, já vendi leite “in natura”,
de porta em porta, aprendi a transformar o leite e fabricar, queijos,
requeijão, manteiga e doces, sei muito bem onde está o gargalo. Qualquer produtor
de leite, grande ou pequeno, letrado ou analfabeto, sabe que o leite é um
produto altamente perecível. E é aí que a porca torce o rabo. Levar o leite
para localidades distantes do centro produtor, é sempre arriscado. E se o leite
chegar às unidades de beneficiamento e transformação já apresentando alguma
acidez, o resultado pode ser desastroso.
O ideal é resfriar o leite. Como a
maioria dos produtores não possuem resfriadores, tome gelo dentro do leite,
tome formol, água oxigenada e solda caustica. Vale tudo para preservar a
integridade do leite, até mijo de vaca, para aumentar a densidade e o
densímetro não acusar que o leite tem água em excesso. E ainda tem funcionários
corruptor que recebem o leite na plataforma das usinas de beneficiamento e usam
produtos para análise (alisarol é o mais comum) em maior ou menor grau, a fim
de acusar, quando querem, que o leite está ácido e assim pagar menor por ele.
Tudo seria mais simples, se, entendendo
que o leite é altamente perecível, os produtores fossem incentivados pelo
governo a adquirir resfriadores e veículos adequados para o transporte, através
de programa que barateasse e facilitassem a aquisição destes equipamentos. As
grandes empresas de beneficiamento poderiam ser incentivadas a ter suas
próprias fazendas de gado leiteiro e nelas instalar suas fábricas, porque tudo
passa também pela distância entre a coleta e o beneficiamento. As grandes
empresas também deveriam concentrar-se no mercado do leite em pó e nos sub
produtos do leite ou que dele se utilizam (manteiga, queijos, doces, etc.) e
deixando aos pequenos produtores o mercado do leite in natura, tão apreciado
pelos consumidores.
Eu teria muito mais idéias, soluções e
sugestões a apresentar sobre a produção e o mercado do leite e seus subprodutos.
Mas, quem disse que nenhum governo está realmente interessado em solucionar
estes problemas? Pior ainda. Quem iria querer me dar ouvidos? Nos anos 60. Na fazenda à qual me referi, o
proprietário já tinha um resfriador instalado ao lado do curral, fazia duas
ordenhas por dia, uma à tarde e outra pela manhã. Como ele estava há apenas 30
KM da cidade, o leite chegava cedinho e gelado na porta dos consumidores.
Chegou uma grande usina beneficiadora na cidade, acabou como negócio dele e
mais tarde fechou as portas. Nem mel, nem cabaça. Foi assim há 40 anos, ainda
é, e, pelo andar da carruagem, sempre será.
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