O
CT Vacinas, núcleo formado por pesquisadores da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), desenvolveu um
teste para diagnosticar a covid-19, que diminui as chances de o
resultado ser de falso negativo ou falso positivo. Trata-se de um teste
Elisa, nome que deriva da abreviação de "ensaio de imunoabsorção
enzimática" (em inglês, enzyme-linked immunosorbent assay), em referência à técnica usada. Pelo mundo, o método consolidou-se, há anos, como ferramenta de detecção do HIV.
Além de rápido, o teste concebido pelo CT
Vacinas tem a vantagem de ser mais barato que outra opção existente, o
RT-PCR (do inglês reverse-transcriptase polymerase chain reaction), cujo
custo varia de R$ 280 a R$ 470 na capital paulista, conforme apurou a Agência Brasil, após contatar três redes de laboratórios.
Como os testes rápidos, o Elisa também é
sorológico (feito a partir da procura por anticorpos no sangue), com a
diferença de que pode ser realizado somente em laboratórios, ainda que o
equipamento necessário seja relativamente simples. Após as validações
iniciais, a próxima etapa é obter a certificação da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa).
"No caso do Elisa, de metodologia
completamente diferente [em relação aos testes rápidos], tira-se uma
amostra de sangue maior, precisa-se de 1 mililitro, pelo menos. Então, é
necessária uma agulha para coletar o sangue. O processo de detecção da
presença do anticorpo é muito mais sensível", diz a coordenadora do CT
Vacinas, Santuza Ribeiro.
"Por isso, mesmo que a pessoa tenha baixas
quantidades de anticorpo, não se detecta naquele teste rápido, mas
pode-se detectar no Elisa. Não se consegue fazer o Elisa em um balcão de
farmácia, por exemplo. Por outro lado, há uma sensibilidade muito
maior. Outra vantagem é que, com o Elisa, consegue-se uma redução não só
de falso negativo, mas de falso positivo, que é quando se tem uma
reação que parece positiva, e, na verdade, é um anticorpo contra outro
vírus, que não o Sars-CoV-2, como o de gripe comum", explica Suzana.
Com o Elisa desenvolvido pelos pequisadores
do CT Vacinas, consegue-se mostrar que, em pessoas que têm anticorpos
contra outras viroses, como dengue, não se detecta positivo. "O teste
rápido não é capaz de diferenciar as outras infecções", acrescenta.
Na prática, o que se faz é fixar o antígeno
em uma placa de poliestireno e ligá-lo a um anticorpo com marcador
enzimático. Caso haja reação de defesa do organismo contra o agente
patogênico – no caso, o novo coronavírus –, na forma de anticorpos, o
material depositado sobre a placa muda de cor.
Em virtude da estrutura exigida para
aplicação do teste, a equipe agora busca o apoio de órgãos federais,
como o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e
outros entes públicos e também de empresas, para possibilitar a produção
em larga escala e a disponibilização a uma parcela significativa da
população. Duas pontes que estão sendo negociadas envolvem a Fundação
Ezequiel Dias (Funed), do governo de Minas Gerais, e o Instituto de
Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), da Fiocruz.
Santuza destaca, ainda, que o teste Elisa
para covid-19 surgiu do aprimoramento de um saber que já circulava no
núcleo, sinalizando para a importância do investimento estável em
ciência. "No CT Vacinas, a gente já havia desenvolvido um teste muito
semelhante, para outras doenças, inclusive não virais, para
leishmaniose, doença de Chagas e malária. A mudança que foi feita
consistiu em colocar como componente do teste uma molécula capaz de
detectar o anticorpo contra o covid-19."
"Testamos três opções e encontramos o
antígeno N, componente da partícula viral, como a melhor molécula para
detectar o anticorpo contra covid-19. Isso foi uma demanda específica
que tivemos da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, por meio
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig),
com financiamento da fundação, inicialmente, e depois recebemos recursos
do governo federal, por meio da Rede Virus, do Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações. De acordo com a coordenadora do CT
Vacinas, trata-se de uma molécula distinta da que está sendo usada no
desenvolvimento de vacinas.
A proposta foi apresentada pela Fapemig no
início de março, diz Santuza, ao destacar o sucesso da equipe, que
completoo o desafio em três meses: "A gente ficou muito feliz, porque
não sabia se teria capacidade de realizar em um tempo tão curto." (Agência Brasil)
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